Conto trágico

Era uma moça triste. Envolta em toda a beleza que a morbidez trazia. Vivia só. Sentia um vazio, que se transformava em angústia, por não ter razão aparente. Ela não sentia amor por si própria, mas julgava amar os outros. De uma maneira torta, sufocante, cega. Não tinha noção do poder destrutivo de suas atitudes. E a maior vítima de todas era ela mesma. O imediatismo, a impaciência a tornavam escrava de esquemas torpes. Era capaz de enganar quem mais a amava, e não sentir pesar por isso. Cobrava fidelidade de tudo e todos, mas era incapaz de ser verdadeira. Apesar de bradar com veemência sua lealdade, suas atitudes apontavam o contrário.
Nada se conhece sobre a história de sua vida, ou o que a tornou assim. Somos resultado de nossas experiências, e admitir a verdade pra si é libertador. Mas ela era viciada em mentir. Não sei dizer se por medo, defesa ou carência. Vivia uma realidade inventada, cujas memórias se confundiam com seus desejos. Não raro, suas expectativas eram frustradas quando confrontadas com os fatos.
O desespero que ela sentia fazia fechar as portas da percepção. E ela procurava violentamente algo em que pudesse se apegar. Vivia relações destrutivas, se mortificava pelo passado, mas parecia incapaz de mudar o futuro. Faltava realizar que o vazio seria preenchido a partir do momento em que ela se desarmasse, olhasse pra dentro de si. Tratar o mundo como deseja ser tratado, essa é a lei. Será que um dia ela aprenderia a ter empatia?
Vivia uma vida de pensamentos rasos. Se sentia perseguida. Imaginava planos conspiratórios, enxergava todos como inimigos em potencial. Atacava antes, por pensar prever os movimentos alheios. Julgava os outros conforme as próprias atitudes. Era egoísta, perdulária, infantil. Causava tensão em todos à sua volta com suas reações extremas. Costumava crucificar os outros pelos erros pertinentes a ela. E se auto-flagelava, na tentativa de despertar piedade e ser notada.
Procurava satisfação em seus os amantes, mecanicamente. .Despertava o instinto protetor em alguns, mas por pouco tempo. Qualquer pessoa sensível, logo após certa convivência, seria capaz de enxergar o perigo naqueles olhos expressivos e mutantes. Os mesmos olhos, janelas que expunham a dor real pelas conseqüências que ela mesma fomentava. Pra outros, era melhor tê-la como aliada, se fazer presente, indispensável, estar lá. Atitudes assim, teoricamente, evitariam surpresas desagradáveis
Diante dela se formava uma arena. Como se a vida fosse um espetáculo dramático, e nós fôssemos expectadores de suas tragédias. Não tinha pudores em fazer as pessoas acreditarem na sua capacidade em usar a própria vida como moeda de troca. E os outros, por piedade ou pureza, cediam aos seus caprichos. E assim vivem em círculos, voltando sempre pro mesmo ponto de partida. Sofreu, viveu, chorou, sentiu e causou dor, inúmeras vezes. Assim, o tempo foi se arrastando por um ciclo vicioso. Ciclo esse que teve fim em um dia nublado. Morreu só. Ou simplesmente, acordou do pesadelo de viver.


Escrito por Lorena Ruyz


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